
— Você vai fazer uma performance?
— Haha... Não, por quê?
— A sua saia, de plástico.
— Não, realmente. Eu gosto de moda. Eu mesmo faço
as minhas roupas.
— Eu gosto. E também da blusa de tule e das
tatoos.
— Obrigada. Muito legais essas bonecas nas bolhas
de plástico, né?
— O que são?
— É o lançamento de um livro objeto, As aventuras
sujetivas de Bjork.
— Acho que a artista é minha amiga. você desenha roupas ou algo assim?
— Também. Eu fiz psicologia, trabalhava com
psicodrama, adoro. Mas gosto de comida. Você provou esse patê de pato?
— Sim. Tem de porco também. Muito bom.
— Daí resolvi fazer um curso de gastronomia. Eu
gosto de cozinhar, fazer os pratos.
— Hum.
— Mas eles ficam muito na teoria. Muita leitura,
pouca cozinha. Larguei.
— É. Chato.
— Eu não como carne de boi. Não tem gosto! Eu
gosto de porco. Bacon!
— Hum... tente o patê de porco, está ótimo. Vamos
tomar mais um pouco de espumante. Que mais você faz?
— Gosto de experimentar os restaurantes.
— Talvez possamos experimentar algo juntos.
— Sei tocar piano.
— Sério?
— Até hoje tenho o piano em casa.
— Ainda toca?
— Claro. Amo. Mas não pratico muito.
— O piano. Dizem que quando Satie se foi,
encontraram em seu quarto um piano
desafinado e de cordas quebradas... Uns dias atrás ouvi uma história... Um casal
muito simpático, um americano e uma sino-brasileira. Eles tem andado por aí.
Mudaram-se para cá vindos do Uruguai. Eles, lá, estavam procurando por um
piano. Um piano de parede, como o seu. Mas então encontraram esse piano de
cauda curta, um baby piano, como eles se referem. Foi amor à primeira vista.
Ocupou a sala toda.
— Uau.
— Mais tarde, quando vieram para Brasília, foi difícil trazê-lo. Esse piano está qualhado
de sentimento dentro dele... Pertenceu a uma famosa dançarina russa.
— De verdade?
— Um diplomata uruguaio a conheceu na União
Soviética. Apaixonaram-se. Ela abandonou o palco. Acompanhou-o. E trouxeram o piano
para o Uruguai.
— Está quente, o espumante acabou.
— No final, ela teve um câncer irremediável.
— ...
— Eles fizeram um acordo. Ela a envenenou, para
que ela não sofresse. E suicidou-se em seguida. Ficou o piano.
— O piano... “the piano has been drinking... not
me”
— Essa música, bonita e triste. Não combina muito, está barulhento, o vernissage ainda não acabou, você não performará... ficamos sentimentais... http://www.youtube.com/watch?v=BPPtrqvHGEg