Esteve seu
governador inaugurando o novo centro de atendimento a moradores de rua – Centro
POP. Chamou imprensa, ministros e secretários, e disse que a partir de agora
ninguém ficará largado na rua no DF. O centro de atendimento fica junto do
Parque da Cidade, o serviço foi deslocado do prédio do Touring, ao lado da
Rodoviária, para fora do centro – o que faz lembrar de quando desativaram o
postinho da Civil na Rodoviária, que, mais que delegacia, tinha uma força de
ação social muito grande. Retóricas à parte, convidaram também os usuários do
serviço. E quem veio foi Leca. Veio com o namorado, toca na cabeça, a mochila
cheia de gatos. Metro e oitenta, morena e bem magrinha, usuária de tiner desde a
infância. Banharam-se, e ela foi à tenda de salão de beleza que estava montada
para o dia.
Quando
soube que seu governador estava lá, disse que também queria falar ao microfone,
que tinha que fazer elogio, que ele estava melhorando a vida de quem tá na rua.
Foi Verô quem prestou atenção, e resolveu abrir espaço entre as “otoridades”:
ninguém melhor para falar daquela ação senão quem dela usa. Então, chamaram:
“Quem vai falar agora é Leca, usuária do Centro POP”.
– Boa tarde
a todos, meu nome é Robismar e eu vivo na rua. Comecei a trabalhar na rua quando
era criança, eu e meus irmãos. Minha mãe mandava pedir dinheiro e vender
chiclete no ônibus.
E declamou
aquele toada rimada que ninguém tem paciência.
– Era tudo
mentira isso que a gente falava, mas eu terminava dizendo que “quem quiser dar
de bom coração eu aceito, e quem quiser dar de mau coração eu aceito também”.
“Eu tinha outras coisas pra falar
mas o tiner dissolveu meu pensamento. Eu quero agradecer a seu governador por
essa coisa boa que está fazendo, o SUPER POP.”
Verô é quem
está nesse trânsito tortuoso entre os que não tem voz e os que só tem discurso.
Quem está no chão, chapado, deve ter a impressão de sonho ao ver essa mulher se
materializando, pernas e peitos, boca e cabelos, seu sorriso e voz convocando para alguma
coisa.
Seu
governador, despachada a cerimônia, subtraía-se do Super POP, quando ouviu a
convocatória dessa essa voz e sorriso que levanta o povo da calçada:
“Governador, não vai dar um abraço na sua eleitora antes de partir?” Ele tornou
para Verô, foi Leca quem correu pro abraço, e bem que tentou lhe tascar beijo.

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